Liberdade sexual na potência máxima

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por Vajra

Nós mulheres também queremos viver nossa liberdade sexual, mas desde muito jovens somos reprimidas nesse desejo. A primeira coisa que ouvimos quando falamos em ter vontade de transar é ‘puta’, não pode transar com mais de um cara, não pode ter desejo por mais de um cara, não pode ter desejo, não pode querer transar. Tem que se comportar se não nenhum homem vai querer casar contigo, nos reprimem com argumentos de moral cristã. Não pode ser “saidinha” se não vai ficar mal falada.

Eu não vivi minha sexualidade na adolescência e no começo da minha vida adulta. Meu pai dizia que eu só podia namorar depois dos 18 anos e isso subentendia que eu só podia transar também depois dessa idade. Sentia muita culpa de sentir tesão quando adolescente e não conversava com minhas amigas sobre isso. Me masturbava escondida, embaixo das cobertas, morrendo de medo que minha mãe visse que eu estava fazendo algo “proibido”. Era o jeito que eu tinha de “viver” minha sexualidade. Uma adolescente com tesão que não transava e tinha que esconder quando sentia porque era errado.

O sexo é tratado – ainda mais para as mulheres – como algo proibido, errado e cheio de repressões. Meus irmãos podiam levar as namoradas para casa sem problema e questionamento nenhum, mas até quando eu tinha namorado, uma relação monogâmica e tradicional, não podia. Meu ex-namorado nunca dormiu na minha casa. E quando, imagino, meu pai começou a se dar conta de que eu transava, me proibiu de ir na casa do meu namorado com o carro dele. A única preocupação da minha mãe era se a gente estava “se cuidando”, ou seja, usando camisinha. Não existia abertura para falar de envolvimento, como eu se sentia na relação, como foi a minha primeira vez, como era transar. E quando pedi para ir ao médico ginecologista para tomar pílula anticoncepcional pra poder transar usando mais um método contraceptivo, ela disse que era muito cedo (eu tinha 19 anos!).

Quando ainda morava com meus pais, depois de um pouco mais adulta, levava os caras escondido lá pra casa, ninguém podia saber que eu estava transando com caras que não eram meus namorados por que se não o que as pessoas iriam dizer? O que os outros, e, principalmente, a minha mãe ia dizer? Que eu não me dava o valor, que eu transava com qualquer um, que eu não me dava o respeito. Que é o que a sociedade diz: mulher séria “e pra casar” não transa. E também não é feliz, convenhamos.

Há pouco tempo, depois de um ano frequentando o Namastê, que comecei a transar com mais frequência e ir em busca de viver a minha sexualidade. Mas não são raros os momentos em que eu me sinto só um buraco, um objeto sexual, uma boneca inflável. Nós mulheres gostamos de transar tanto quanto os homens. Mas nós não queremos nos sentir meros objetos. E querer carinho, sensibilidade, toque, olho aberto e continuidade do que aqui fora chamam de sexo casual não quer dizer que a gente quer casar no dia seguinte. Quer dizer que queremos respeito, envolvimento, e não superficialidade e efemeridade. Porque somos pessoas.

Deixar um homem entrar no nosso corpo é um ato de amor, é intimidade e não é demais querermos mais. Nossos corpos são diferentes, nossos estímulos são diferentes. Queremos trocar prazer e amor. Transar é um ato de amor. Sexo é um ato de amor. E se quisermos nos envolver também, qual o problema? Quer dizer que queremos criar uma conexão com uma pessoa, que o sexo é bom, que se envolver é bom, que querer aprofundar uma história é querer viver de forma completa o que tiver que ser vivido, no tempo que for.

Sinto que os homens fogem muito quando nós damos esse papo de querer continuar transando e se envolvendo. Que estamos afim de viver nossa sexualidade com eles. Nos chamam de loucas, carentes, desesperadas e que não sabemos viver o amor livre. Mas o que parece que está por trás é um medo de saber que, mesmo querendo ficar com eles, a gente também pode ter vontade de transar com outros caras, apesar da repressão social e deles. Que eles vão ter que aceitar a igualdade da liberdade sexual.

Isso vale pra nós mulheres também: quando um cara vem querer se envolver ficamos, na maioria das vezes, desconfiadas e com medo que o cara nos machuque, nos engane, nos troque por outra mulher se a gente falar que quer mais dele e vá embora por esse histórico de eles terem mais liberdade pra viver a sexualidade. E aí fica nesse eterno jogo de gato e rato, de falta de entrega, de posse, de dominação, de repressão, de fuga, de ciúme, de medo que não levam a lugar nenhum. Queremos poder viver nossa sexualidade de forma completa, sem repressão e culpa! E queremos homens dispostos a aceita-la da forma mais livre possível, de forma respeitosa e carinhosa.

 

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