Medo de sexo

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Parece até meio ridículo falar isso, mas a verdade é que eu tinha muito medo de sexo. Aí resolvi fazer uma retrospectiva da minha “vida sexual”.

Quando eu era pequena, ora estava na casa da minha mãe, ora do meu pai. Minha mãe não namorava, e a única vez que ouvi som de sexo, fiquei muito agoniada. Porque eu sabia que não eram gemidos de dor, acho que sabia que sexo, mas era uma sensação de incomodo e de nojo até.

O meu pai era casado, e na casa dele eu também não ouvia nada. Ainda lembro de algumas coisas da minha sexualidade na infância: lembro que eu e meu melhor amigo nos masturbávamos como se fosse uma brincadeira (não interagindo, mas nos juntávamos pra isso). Também lembro que tinham umas brincadeiras mais picantes com os garotos, lembro que eu gostava, e de ser tenso também.

Certa vez eu achei as revistas pornôs dos meus primos – ficavam escondidas dentro de uma cesta no banheiro da casa da minha avó – eu ficava olhando aquelas revistas, e aquilo me dava tesão e ao mesmo tempo nojo e achava que aquilo era só coisa de revista mesmo.

Pré-adolescência

Aos 13 anos, comecei a namorar. Nós estávamos muito muito apaixonados – Começaram os arretos, passa mão aqui, ali. Porém, no início eu sentia mais tesão, mas conforme ele foi me tocando mais foi ficando ruim, ele não sabia o que estava fazendo e eu não conseguia falar que não estava bom ou o que eu queria. Eu sentia muita vergonha, muita vergonha.

Afinal, eu tinha um grupo grande de amigos e fomos o primeiro casal a transar – Já fazia 1 ano que estávamos namorando, e eu fiz isso como um presente para ele. Entretanto, não foi pra mim. Era como se já fosse uma obrigação, até por que ele também era virgem, e se eu não transasse, certamente outra transaria. Porém, foi desajeitado, doeu, sangrou. Não senti nada de prazer. Namoramos anos.

E foi assim: eu ficava tensa cada vez que ia transar, pois me sentia mal de não sentir prazer, tinha certeza que era algo errado comigo. Enfim, durante o sexo o meu objetivo era de que ele sentisse prazer e que não percebesse que eu não sentia. Durante anos eu fingi que sentia prazer e que gozava. A quantidade de transas que tínhamos era marcada por quantas vezes ele gozava.

A minha questão não era que eu não sentia tesão, sentia e muito, mas quando ia transar travava de medo.

Na pista

Tive alguns namorados e parceiros, e óbvio que com cada um era diferente, mas a questão principal era que eu sentia muita vergonha de realmente sentir prazer, ficava incomodada quando sentia. Tiveram vezes que senti bastante prazer e algumas vezes bem raras até gozei – em circunstâncias em que não estava preocupada o que o cara ia pensar de mim.

Bem como, muitas vezes bebia pra perder o medo ou ia ficando com caras nada a ver. Eu tive alguns namorados e me apaixonei um monte de vezes e era muito frustrante não conseguir relaxar e sentir prazer com eles… Tive que chegar lá no fundo do poço pra dar um impulso pra sair.

Foi depois de um término de namoro desastroso. Onde o cara era muito machista e resolveu investigar todas as pessoas com quem eu tinha transado e com quem eu tinha sentido prazer, que tive coragem de encarar que a minha vida sexual (e todo o resto) estava uma bosta. Então, eu estava deprimida, desesperada, em um relacionamento abusivo e vivia para o trabalho.

Como eu tinha parado ali? Anos passando por cima das coisas que queria, sem ter coragem de falar o que me incomodava e o que me dava prazer. Cheguei num limite mesmo. Não tinha como continuar a viver daquele jeito. Precisava rever tudo, desde como cuidava do meu corpo e da minha cabeça, na relação com meus amigos, com os homens, com o trabalho, com meus pais, com o dinheiro. Ali ficou claro de que precisava fazer coisas por mim.

Eu precisava muito sentir alguma coisa. Alguma coisa minha, e não resultado do que eu achava que devia sentir. Eu me descobri muito perdida, mais ainda do que percebi num primeiro momento. Eu já não me conhecia mais. Entretanto, foi preciso eu reconhecer tudo isso para então querer ir mais fundo e fazer diferente. O segundo passo foi procurar uma terapia. Eu estava em frangalhos.

A bioenergética foi me reconectando com meu corpo e a partir dessa reconexão fui conseguindo fazer diferente. Eu tinha mais energia, mais vontade de fazer coisas que me faziam bem. Contudo, já não tinha mais vontade de passar horas no bar. Então, comecei a sentir mais e mais tesão e as transas foram ficando diferentes, sem eu nem “perceber”.

Quando começaram as mudanças no meu corpo

Lembro que a primeira coisa que percebi é que eu estava respirando durante o sexo. Também, que quanto mais eu respirava, mais eu sentia prazer. Assim, menos me vinha a sensação de medo de sexo. Poucos meses antes eu só transava bêbada, com a luz apagada e prendia a respiração a todo o tempo pra não fazer nenhum som. Pois é, som, quando comecei a soltar som durante o sexo me causou uma estranheza tremenda. Era como se eu estivesse fazendo algo muito errado, só que era muito bom.

Há uns 5 anos atrás me apaixonei por um cara, e foi impressionante, eu nunca tinha sentido nada daquilo durante o sexo. Tiveram vezes que passamos horas transando, e era um prazer sem fim, e não era só genital, o prazer se espalhava pelo meu corpo todo… Mas ainda aí eu não tinha orgasmos.

Depois, me apaixonei de novo. Transávamos muito e eu sentia muito prazer. E percebia que cada vez sentia mais e mais. Já não tinha mais tantos pudores, já gostava mais do meu corpo e de mim mesma. Só então é que comecei a ter orgasmos – Assim, meio desavisado, sem nem pensar, aconteceu – Fui tomada por uma sensação de prazer crescente e mais e maior e mais e foi. Foi como soltar meu corpo num prazer sem fim. Muito incrível.

E nada disso foi mérito dos caras. Tudo isso foi consequência de voltar a sentir o meu corpo, de conseguir expressar sentimentos e tensões reprimidas – Fui fazendo as pazes com meu corpo, relaxando e me sentindo bem com o meu tesão. E valeu cada passo, cada desafio.

E todo aquele medo de sexo se transformou numa busca pelo meu prazer e por mim mesma.

E, sinceramente, não dá pra ser feliz com uma vida sexual bosta.

por Anand Teja

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