Sexo horizontal X sexo vertical: pra onde tá indo teu tesão?

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Eu me lembro o que aconteceu quando eu comecei a transar, na adolescência. Toda minha energia e vontade ia numa só direção = transar mais. E foi o que eu fiz, por dois anos, sem conhecer o que era orgasmo. Mas tinha muito prazer, era quase um entorpecimento no qual eu queria permanecer o máximo de tempo possível.

Daí eu descobri o orgasmo, e como tudo era diferente com parceiros diferentes, e o parque de diversões das fantasias sexuais, de ter a atenção sexual dos homens, do poder que isso me dava. E daí eu queria mais orgasmos, mais fantasias, mais atenção dos homens, mais poder…

Tudo que me tinha sido negado e reprimido por anos eclodia com uma força enorme, se transformando no ponto de maior interesse na minha vida. Por mais que a gente não fale muito sobre isso, toda negação e repressão que eu vivi na minha infância/adolescência é a regra em se tratando de criação de meninas e meninos.

Sugestão de Leitura >> https://amoscaqueperturbaoteusono.wordpress.com/2017/10/24/o-amor-e-lindo-mas-por-que-a-gente-acha-que-e-feio/

A energia sexual tem um ciclo de vida que passa por uma eclosão na adolescência, pedindo (na verdade, exigindo) espaço para a experiência, pra a expressão, para a expansão. Da forma como temos lidado por séculos com o desenvolvimento da sexualidade das crianças, ao chegar na adolescência, esse movimento natural da energia já está bem comprometido. Os medos e culpas que se infiltram a cada olhar de reprovação, a cada frase de julgamento e repressão às brincadeiras e curiosidade sexual infantil vão se infiltrando no corpo de cada um, enrijecendo seu fluxo e comprimindo seu potencial para o prazer.

Talvez contigo não tenha acontecido de uma forma muito óbvia, com castigos ou berros, mas tu podia perceber o sorriso sem-graça da tua mãe ao perguntar alguma coisa sobre sexo, no mudar de assunto, no mudar o canal da TV sem falar nada quando tinha uma cena mais sexual… Essas informações são filtradas pelas antenas bem limpinhas das crianças e assim se “aprende” que tem alguma coisa errada com sexo.

Compulsão sexual – o estouro da boiada

E exatamente porque esse espaço de exploração natural é irremediavelmente negado, ora por repressão, ora por distorção, essa energia fica ali, à espera de uma oportunidade pra cobrar sua vez. E sabe boiada contida pela porteira, quando a porteira abre? Estoura e sai desesperada ganhando o campo que estiver pela frente. E aí as meninas se perdem na experiência, aos trancos e barrancos, quase nunca com a sensibilidade e integridade que a ocasião merece. Os meninos começam a desenvolver o senso de obrigação do macho – que tem que perder a virgindade logo, senão é motivo de chacota; que tem que “fazer a mulher gozar” senão não é homem; que não pode brochar e, se isso acontecer, não falar a respeito, pois nenhum dos seus amigos brocha (sóquenão)…

A questão é, a largada da experimentação sexual que se dá na adolescência, vinda de uma repressão feroz sofrida por toda infância, é acompanhada de uma tensão e um desejo de compensação que resulta num movimento horizontal desta energia – uma compulsão pela experiência sexual. Como se estivéssemos presos num parque de diversões, o qual é muito excitante e divertido nas primeiras horas, mas meses brincando nele vai chegar num teto… e é isso que tem acontecido com a gente, exatamente por causa da condenação do sexo (valeu, religiões de todos os tempos!).

Esta exploração “horizontal”, o longo e delicioso passeio pelo parque, é uma necessidade de todos nós. Mas numa situação natural, onde as crianças tenham a permissão de explorar sua energia sexual, fazendo todas as descobertas necessárias, essa exploração vai levar obrigatoriamente a uma porta para a experiência que eu chamo de vertical, onde o sexo é um caminho para acessar o coração. Todas os arrepios e deleites das montanhas-russas e trens-fantasmas do prazer sexual não podem ser comparados ao sexo conectado com o coração. É simplesmente um outro espaço, onde a integridade de cada pessoa é pré-requisito e a experiência sexual é uma aventura de crescimento, de descoberta de novos espaços de contato, de amor e de sintonia com algo maior do que aquilo que cabe na nossa mente controladora, e por isso mesmo, implica em expandir, crescer.

Virando o jogo

Amigos, a revolução sexual real não está em criar novas questões ou estereótipos ou bandeiras a carregar. A mudança mesmo vai acontecer quando a gente parar e perceber realmente nossas necessidades e limitações sexuais. Quando os homens tiverem coragem de admitir sua impotência, quando as mulheres encararem sua frustração, quando todos nós dermos atenção para nossas dificuldades na sexualidade e para o imenso potencial de crescimento dormente por trás delas. E o sucesso derradeiro da revolução sexual acontecerá quando estivermos vivendo nossa sexualidade com naturalidade, com intensidade e profundidade. Só assim vamos abrir essa possibilidade para os nossos filhos que, assim, não precisarão de um esforço para libertar essa energia, pois ela não será reprimida. Taí a receita do “mundo melhor”.

Mas a gente, que foi, sim, reprimida, precisa deste esforço pra se libertar. Por causa dos anos de repressão, abrir a porteira e soltar a boiada é necessário. Liberar a energia sexual reprimida é fundamental, livrar-se dos preconceitos e moralismos que instalaram na gente como chips anti-sexo são passos muito necessários para colocar esta energia em movimento. Mas este não é um objetivo em si, é apenas um momento do caminho. O objetivo é ir adiante, do sexo ao coração, onde transformação e crescimento são possíveis.

 

 

E essa passagem do horizontal pro vertical vai implicar em lidar com questões do coração, como confiança, entrega, e todos os medos que isso envolve. Tem formas de lidar com isso. Tanto no abrir a porteira, quanto no lidar com as questões do coração, a bioenergética entra como uma ferramenta que não é corrompida pelo próprio sistema que criou toda a confusão, como tantas outras “ferramentas psicológicas” em oferta por aí são… ela vai direto no teu corpo e nos sentimentos e energia que estão guardados ali. Você sente, enxerga e percebe como foi travando tua sexualidade e esta é a chave pra dar meia-volta e recuperar esse estrago.

A bioenergética não se ocupa em te tornar um cidadão melhor, mais eficiente e adaptado ao sistema. Ela se ocupa em revelar tua verdade, e teu potencial de criar uma vida que responda a essa verdade em primeiro lugar, nutrindo o que te fortalece e mudando o que não te serve.

 

Infelizmente, poucas são as pessoas que se atrevem a encarar essa virada na vida, por isso a gente vê tanta gente mais velha, homens e mulheres, presos a uma expressão adolescente da sexualidade, sem conhecer o tesouro da maturidade que uma sexualidade bem-vivida traz. Ou, na maioria dos casos, quando o parque de diversões perde a graça, as pessoas desistem e voltam a negar o sexo, tal como aprenderam na infância e adolescência. E assim se tenta suprir toda a falta da satisfação sexual consumindo itens, viagens, informação, entretenimento, prestígio, drogas, etc. Essa substituição tem seu preço individual e social. Ela cria e perpetua essa sociedade da desconexão na qual estamos imersos, e da qual volta e meia reclamamos…

Qualquer movimento de crescimento de consciência no mundo não vai vir de humanos cuja energia estagnou de tanto ser contida. Tá mais que na hora de deixar aquela criança curiosa e cheia de energia que um dia tu foi recuperar sua espontaneidade, seu tesão natural e crescer a partir daí.

Saiba mais sobre sexo conectado ao coração em nosso blog.

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