Sexualidade Reprimida

Tempo de leitura: 6 minutos

Por Nirava

Viver a sexualidade deveria ser um estado natural na vida de um adulto. Deveria ser uma manifestação de amor.

Mas com uma sexualidade reprimida, a realidade acaba sendo outra. Cada vez mais vamos nos deparando é com uma sexualidade distorcida, cheia de perversões associados a bagaceirices, fantasias, desconecções.

A maneira como conheci a sexualidade foi totalmente distorcida, ainda mais estando num corpo feminino.

Desde novinha ouvia dizer que sexo era errado, perigoso, sujo. Que uma mulher que tem interesse por sexo é uma puta, não é uma moça de família, não é pra casar, o que os vizinhos vão pensar se te verem conversando com um menino… Tu vai ficar mal falada!

Essas frases fizeram parte da minha infância e adolescência. E até hoje se deixo, elas ecoam como um mantra na minha cabeça. Não tenho irmãos homens para fazer um comparativo mas muitos primos e a mensagem era outra beeeem diferente.

Conhecendo meu corpo

Meus primeiros impulsos sexuais aconteciam. E eu me refugiava no meu quarto escuro, num momento onde todos da casa estivessem ocupados. No interesse de querer me conhecer, me tocava, reconhecendo no meu corpo onde eu sentia prazer, sensações gostosas. Lembro de ser um barato aquelas descobertas mas ao mesmo tempo vinha um medo desgraçado que alguém pudesse entrar no quarto e me visse fazendo tudo aquilo. Na minha cabeça já tinha a mensagem de ser errado. No fim eu sempre pensava que eu tinha problemas por sentir prazer, por estar fazendo coisas “proibidas”. Saía do quarto me sentindo um lixo por sentir meu corpo.

Lembro de ficar com muita raiva e eu pensava: Como que algo tão gostoso pode ser errado? Pra mim não fazia sentido, mas seguia me sentindo culpada.

E o mais enlouquecedor eram as múltiplas mensagens que meus pais passavam sobre sexo: sexo é errado, sexo só no casamento, cresça e case, constitua família. Mas eu via eles e o exemplo era horrível! Não sexo, não afeto, não parceria. Porque eles queriam isto pra mim? Eles não gostavam de mim? Então quer dizer que tenho que casar pra transar e deixar de transar depois? Deus o livre, escrevendo já vejo quanta loucura que eu sentia a respeito.

Adolescência

Vivi a adolescência me sentindo feia. Tanto minha mãe quanto irmã eram gordas eu eu não queria ser como elas e realmente nunca fui. Mas o medo de ser, fazia com que eu escondesse o corpo, me achava gorda. Os meninos geralmente gostavam das minhas amigas…e isto reforçava cada vez mais o quanto eu me achava feia. Que eu não era “o padrão”, foi uma sofrência minha adolescência. O resultado disso foi aceitar qualquer coisa de qualquer pessoa que me desse bola. Nisto minha primeira experiência sexual foi horrível. Sem nada de referência dentro de casa, o tanto que eu sabia era de revistas para adolescentes e dos “erros” da minha irmã que é mais velha do que eu. Enfim, O cara com quem tive minha primeira experiência foi totalmente indiferente comigo. Me submetia mesmo não querendo para ter em troca, um mísero contato, mísero afeto. Ao longo da adolescência fui tendo relações, mas sempre com uma sensação de que aquilo não era bom. Mas o que que seria bom? Não fazia a mínima idéia.

O Encontro

Anos foram se passando e muitas frustrações aconteciam. Me sentia sem poder pessoal principalmente com os homens. Sempre aceitando migalhas.
Aos 24 anos conheci a bioenergética. Mergulhei fundo num processo de autoconhecimento que acabou respondendo muito de tantos questionamentos que eu tinha.

Redescobri meu corpo, meus sentimentos, só que agora sem medo dos julgamentos que passavam pela minha cabeça. Me deparei com muito lixo acumulado. Coisas que eu nem fazia idéia que pudesse interferir na minha sexualidade. Minha relação com os homens, minha relação com as mulheres, tudo estava diretamente ligado com a relação que meus pais tinham comigo e de como eu recebia isto deles. Nossa! Senti muita dor desta relação com meus pais, muita raiva, mas também pude sentir muito amor por eles. Na medida de que o terreno é limpo, abre espaço pra plantar tudo que se quer. E foi o que eu fiz!

Do Sexo ao Coração num Ato

Paralelo a todo este processo, comecei a transar mais e sentir realmente o que era ter prazer. Percebi o real significado de ter um orgasmo e identificar quando só ejaculava também, que é igual a uma descarga de energia. Sim, nós mulheres, a gente perde energia, a gente quer que acabe logo a transa, dá vontade de virar pro lado e dormir. Descobri que não precisava fazer performance na cama pra agradar o cara, que não era um “mérito” meu fazer um homem gozar. Sim! Eu achava que era o máximo quando o cara gozava, sentia que eu era uma mulher que correspondia as expectativas do homem. NÃO! totalmente equivocado!

Descobri que não precisava continuar transando mesmo quando não queria mais, só pra agradar o outro.

Descobri que meu potencial de transar era além dos 15, 20 minutos, pude ir pros 40min, 1h até 2h transando e sentindo prazer, tendo uma troca com mais qualidade. Descobri muito a diferença do prazer quando vem do corpo e quando vem da cabeça, fantasias… Descobri que transar olhando no olho do parceiro, criava uma conexão profunda com o corpo, sentimentos e com ele que estava ali.

Após tantas descobertas, já tive encontros muito profundos com meus parceiros, chorei, ri, virei bicho, gemi de prazer e não me senti errada. Descobri que fazer sexo com qualidade me fez ficar mais sensível mais amorosa. E que o maior barato de fazer sexo é quando se vincula com o coração. É um dos maiores manifestos de amor.

E mesmo hoje em dia, muitas vezes escuto uma vozinha lá no fundinho, dizendo que eu vou me perder, vou ficar louca, tá errado, o que os outros vão pensar… Mas depois de descobrir que tudo isto é possível fica difícil querer ter uma sexualidade reprimida, é difícil recuar e dar força para aquele quarto escuro da minha infância.

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