Transar e Sentir

Tempo de leitura: 4 minutos

Transar e Sentir

por Dharini

Sexo: carne, pegada forte, bastante vem e vai, suar, suar, suar, de frente, de lado, de tudo que é jeito. Isso sempre foi sexo pra mim. Um prazer físico, misturado com fissura, e de vez em quando algumas taras, fantasias, e nada mais. Além disso, se eu tivesse chapada, então, melhor!

Enquanto eu sentia a penetração, minha mente viajava, ia bem longe, longe do meu coração. Longe da pessoa que eu estava transando, longe de tudo, e olha só, isso era ótimo!

Quanto mais desconectada da realidade, mais energia eu tinha. Se eu resolvesse parar, pra sentir, conectar com minhas emoções, era um desastre.

Meu negócio sempre foi a frieza. É assim que eu sempre soube resolver tudo na minha vida. Sem raiva, sem amor, sem lágrimas. E tudo corria bem certinho, calculado, as coisas estavam exatamente na hora e no lugar onde deveriam estar. Amor era coisa de gente molenga, fraca! Eu “amava muitas coisas”, mas não via necessidade de expressar esse amor. Afinal de contas, eu ficaria boba, com aquele jeito meio retardado de gente apaixonada.

O Jogo

O controle me dava “poder”. Eu tinha jeito pra tudo e, nas coisas mais inacreditáveis, eu tinha um foco, uma meta. Além disso, na sedução, era um parque de diversões, eu sabia exatamente o que fazer pra pessoa ficar apaixonada por mim. Jogos, táticas, manipulações que não acabavam mais.

Bem do jeito que meu pai sempre fez com as mulheres, e eu quando pequena ficava muito braba. Mas se eu fosse espontânea, amorosa, eu seria igual as patas que ele tanto enganou, e seria enganada também, por algum idiota como ele. Então, eu fui seguindo cada passo dele, acreditando no controle, na cabeça, nas mentiras, e meu coração foi secando, secando, secando.

Quando a gente quer se afastar do coração, o mundo capitalista e louco que a gente vive é um prato cheio. Da mesma forma, todos os meus amigos se drogavam, viviam na noite, e o pior, viviam de imagem. Embarquei com tudo nessa onda, e minha vida passou a se resumir a trabalho, amizades superficiais, muito ácido, maconha e sexo performático. E eu jurava que tinha uma vida legal, uma sexualidade legal!

Minhas mentiras me enganavam muito, me vi submersa nas minhas ilusões, mas a verdade é que quando eu deitava a cabeça no travesseiro, quando eu parava, sozinha, sóbria, eu sabia que eu não estava bem.

Eu sabia o tamanho do ódio que eu tinha de ter uma mãe dependente dos meus cuidados, o tamanho do nojo do meu pai, das mentiras e bebedeiras dele, e ao mesmo tempo o tamanho da saudade que eu tinha dele, por nunca ter estado presente.

Ou seja, eu sabia também que as drogas estavam acabando com meu corpo, que eu nunca tinha me apaixonado de verdade por ninguém, e que eu não sentia muito tesão e nem prazer no sexo.

Eu sabia tudo isso. E me sentia exausta, esgotada da minha vida superficial no Rio de Janeiro, e da minha própria hipocrisia, que tanto pregava a saúde e o bem-estar no meu trabalho, enquanto eu me detonava todas-as-noites. Quanta mentira!

E agora?

Depois de um tempo adiando olhar para a verdade, finalmente procurei ajuda. Busquei uma terapia mais completa, com mais sentimento do que blá-blá-blá, e foi assim que encontrei a Bioenergética. Já tinha passado pela psicanálise e aquelas 2 horas de papo. Só alimentavam o meu “se achômetro” que era bem grandinho já!

Foi nessa busca por algo mais sensível do que cabeção que encontrei a Bioenergética, e aí sim levei um tapa na cara. Minha primeira sessão mexeu MUITO comigo, eu respirava e quase quicava no colchonete de tanto tesão. Ou seja, fiquei molhada!!! Escorria pelas pernas a alegria de sentir meu corpo quente, vivo.

Além de ter sentido muita vontade de chorar, e muito medo de conectar com essa tristeza guardada no peito. Foi uma mistura total de sentimentos e minha mente não conseguia controlar nada. Concluindo, melhor coisa que me aconteceu.

A partir daí, muitos passos que dei, e muitos passos a dar. Saí do extremo medo de amar, a uma busca por amor intenso. E, na minha vida, isso me quebra em cada lado. Me obriga a olhar para a realidade, a coisa que eu mais fugia.

Olhar no olho, perceber meu coração, o que eu quero, o que eu não quero, ignorar o falatório sem fim da minha cabeça, e confiar naquele primeiro impulso do meu corpo. Ou seja, meu corpo sabe MUITO o que quer, e é muito gostoso poder viver uma sexualidade mais profunda e mais conectada com meu coração, hoje em dia.

Claro que tenho ainda muitas dificuldades, elas sempre vão existir, se fosse fácil não seria tão intenso! Da mesma forma, sentir esse pulsar do meu peito nos momentos de prazer, me sentir apaixonada e entregue nessa troca, me dá um preenchimento enorme, me dá muita energia e uma leveza…

Essa leveza que eu descobri que é o que mais me faltava e o que mais conecta com quem eu sou.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *