Manifesto do Orgasmo Feminino

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Parece absurdo afirmar que, em pleno 2018, a gente ainda tenha que falar da enorme dificuldade que é para uma mulher sentir/ter orgasmos, certo? Não. Infelizmente, não é nada absurdo, ainda é bastante difícil para grande parte das mulheres sentir o prazer intimo e profundo que só um orgasmo sexual pode proporcionar.

Segundo pesquisa recente da USP 26% das mulheres não atingem o orgasmo, já outra pesquisa de um Hospital do Rio de Janeiro constatou 42% de mulheres insatisfeitas. Isso que são “pesquisas oficiais, científicas” (e nós sabemos dos imensos limites da ciência para lidar com questões mais subjetivas e, especialmente, íntimas do ser humano).

Eu afirmo, como mulher que convive com muitas mulheres e terapeuta corporal há 15 anos, que o número de mulheres que tem dificuldades ou mesmo nunca sentiu um orgasmo é bem maior. A grande maioria das mulheres está, sabendo ou não, frustrada sexualmente. E, o que é pior, vende-se a idéia de que as mulheres estão mais liberadas, soltas, sentindo muitos orgasmos e, portanto, mais felizes no sexo. Uma grande fachada para mantermos as mulheres caladas, com vergonha, achando que são inferiores a todas as outras que parecem tão satisfeitas sexualmente. Assim, ao invés de nos unirmos contra essa docilização de corpos masculinos e femininos, criamos competição entre mulheres e de mulheres com homens. Uma competição irreal, de imagem que serve muito bem ao poder constituído para não nos unirmos e botarmos a boca no mundo.

São milhões de mulheres sustentando uma imensa industria cosmética, mutilando seus corpos em favor de uma imagem que mantem a falácia de felicidade dessa sociedade machista e superficial. Milhões de mulheres fingindo orgasmo para agradar a quem? Para servir a quem? Aos seus homens que não podem perder o papel de garanhões? Como diria um amigo meu, imagina o bafão? Como ficariam os homens com suas mulheres bradando aos quatro ventos que estão insatisfeitas sexualmente, de bandeiras em punho gritando por mais orgasmo, mais prazer? Seria pelo menos engraçado.

Uma Guerra Contra a Hipocrisia

 Mas não quero aqui estimular uma guerra dos sexos. Não é por aí. Os homens também saem perdendo com nossa insatisfação, mesmo que nem se dêem conta disso. Ninguém ganha com toda essa hipocrisia. Os homens também têm muitas dificuldades de ter prazer de verdade no sexo. Eles também entram em competição, quando contam vantagens com suas “super trepadas”. Estão presos a uma performance sexual onde não há espaço para sentir, têm de ser craques atrás de um desempenho na cama que só fecha os seus corações. Mas isso é outro assunto..

A Falsa Liberação do Corpo Feminino

Meu objetivo é mostrar que apesar de toda a sofisticação sexual que criamos com sexshops, brinquedinhos, swings, além das incontáveis possibilidades virtuais que existem não nos ajudaram a sentir mais prazer, a ter mais orgasmos. Pelo contrário, criaram a falsa idéia de liberação. Criaram a exigência de uma performance, como se sexo fosse algo a ser desempenhado, um jogo a ser jogado e não algo a ser sentido, curtido.

No fundo, a gente só trocou seis por meia dúzia. Por longo tempo as mulheres foram castradas descaradamente. A repressão sexual com as mulheres era abertamente defendida como algo normal. Meninas eram criadas para casarem virgem e terem um homem só. Meninos eram criados para serem garanhões, infiéis. Gritar durante um orgasmo então, era coisa de puta. De um tempo pra cá, a todo momento nos vendem a idéia de que isso mudou, só que não! Mudou a casca, a embalagem, o discurso.

Ainda Somos os Mesmos e Vivemos Como Nossos Pais

Na prática, quando você viu algum pai e mãe falando abertamente com sua filha que sexo é bom, saudável, uma demonstração de amor cabível de ser experimentada com muitas pessoas, que não faz mal algum transar muito, viver livremente sua sexualidade e, SIM, TER ORGASMOS?

E mesmo no caso de pais menos retrógrados, que falam mais abertamente, existe prática além do discurso? A mãe e o pai que dizem que sexo é bom, conseguem falar com naturalidade, espontaneidade porque eles próprios viveram muitas experiências profundas, tiveram muitos orgasmos e são realizados sexualmente? Ou passam a idéia de que é algo pra se curtir na adolescência/juventude e depois se aposentar amorosamente no casamento? Seus pais, direta ou indiretamente, te venderam a idéia do “felizes para sempre”? De que amar é aguentar um parceiro que não te satisfaz? Olha com profundidade, vai além do papo, se teus pais faziam o discurso “moderninho”, como teu pai olhava para uma mulher atraente, sensual? E tua mãe? Quais eram os julgamentos velados, expressos em olhares e constrangimentos? Você ouvia sons de sexo, prazer, orgasmo enquanto seus pais estavam no quarto? Nunca? Então se liga! Já é até manjado, mas vale lembrar: os filhos aprendem de fato pela prática de seus pais e não pelos seus discursos.

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E você? No que você pensa quando está transando?

Bom, em primeiro lugar, a gente não deveria pensar em nada quando está transando. Mas, vamos dar a real: você consegue transar sem pensar na aparência do seu corpo, ou se está agradando o parceiro? Consegue fazer sons durante a transa sem se preocupar com os vizinhos? Consegue se soltar no sexo sem ficar pensando o que o parceiro vai achar se você ou com medo de se derreter em orgasmos e depois ser rejeitada? Eu mesma, ainda hoje, me pego entrando em algumas dessas armadilhas, algumas vezes. Mas não se engane, esses são sintomas da neurose instalada na gente pela repressão sexual. “É feio, é sujo, tem que se esconder e disfarçar o barulho”. Parece babaquice para alguns, mas pega todo mundo. Não é fácil na prática estar livre deste moralismo profundo que nos foi incutido desde sempre.

E, perceba, quando eu falo de liberação sexual feminina eu não estou falando de galinhar apenas, “dar pra todo mundo”, isso também faz parte em algum momento, mas como seres em crescimento uma hora a gente quer mais. Estou falando de soltar o seu corpo e se permitir ser tão inteira e ter tanto prazer no sexo que é inevitável que o amor chegue ao seu coração em algum momento. Você já sentiu isso? Se já sentiu, gostaria de viver isso mais vezes? Duvido que não! E, se nunca sentiu, minha amiga você está perdendo uma das melhores coisas da vida! Você pode e merece viver o sexo, o orgasmo, o amor em profundidade mas, como tudo na vida, tem que batalhar.

Orgasmo Natural Só Acontece Fora da Mente

Infelizmente são realmente poucas mulheres que conseguem isso. Não por incapacidade. Mas porque sem ter conhecimento do seu corpo e de suas emoções não é possível ser inteira no sexo. Se você não limpar toda a bagagem de preconceito, medo, dor, frustração e raiva que tem acumulado desde sua infância tudo isso vai te travar na hora do sexo, ou você vai evitar a sua sexualidade, pelo menos num nível mais profundo, porque naturalmente esses sentimentos vão estar presentes na hora em que você estiver transando de corpo e alma, principalmente, depois de ter orgasmos profundos.

A Terapia Bioenergética é um presente para a sua sexualidade. Uma excelente técnica para trazer à tona todas as emoções reprimidas que nos impedem de viver plenamente nossa sexualidade e nossa vida como um todo.

A vida não é teoria, é pratica. Ter um corpo livre, é requisito fundamental para se ter orgasmo. Se você PENSA em LIBERDADE, pensa em PRAZER, NÃO SIGNIFICA QUE VOCÊ VÁ SENTIR ORGASMO. Não adianta você ter as melhores idéias e intenções se seu corpo estiver programado pela repressão. Você pode até ter um bom desempenho, mas não vai se sentir realmente satisfeita. Lembre-se: desempenho não tem nada a ver com sexualidade espontânea, natural. Orgasmo é algo que acontece espontaneamente, fora do seu controle mental limitado.

Vá em Frente! Não Existe Revolução Sem Transformação Individual

 Nossos, pais, avós e toda a arvore genealógica da qual descendemos foram vítimas da mesma armadilha que pegou o amor e toda a beleza humana dentro da lógica dessa sociedade para a qual seres livres, com corpos livres e corações livres são um perigo! Um problema a ser resolvido porque não nos deixa à mercê de dominação, subjugação, controle. A moral puritana de todas as igrejas que tão bem servem ao Estado controlador e que dominam nosso mundo globalizado, nos é incutida diariamente, direta e indiretamente e está presente em nosso inconsciente desde os contos de fada até a pornografia consentida socialmente que alimenta a descarga de raiva e frustração presente nas “trepadas oficiais” de todos os casais bem-comportados.

Já é hora de rompermos as correntes que nos prendem a esse passado machista, preconceituoso, moralista que torna homens e mulheres infelizes! Homens e mulheres deveriam ir mais fundo em suas histórias para descobrir as raízes profundas da falta de orgasmo, amor e prazer a que fomos acostumados.

Não existe Revolução, sem transformação individual. E nós, mulheres, temos um compromisso em assumir a responsabilidade por nossos corpos, nossa sensualidade e o nosso desejo por mais e melhores orgasmos.

Não precisamos ser santas! Já somos deusas.

Precisamos libertar nossos corpos, lutar junto com os homens. Lutar por um mundo “onde a gente e a natureza feliz vivam sempre em comunhão” e a tigresa possa tanto quanto o leão sentir orgasmos, êxtases cheios da rebeldia saudável que só o coração pode criar.

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