Você tem fome de quê?

Tempo de leitura: 5 minutos

Você tem fome de quê?
(…) A gente não quer só comer

A gente quer comer
E quer fazer amor
A gente não quer só comer
A gente quer prazer
Pra aliviar a dor (…)”
Arnaldo Antunes

Nós vivemos num mundo onde enlouquecidamente queremos ser felizes e saciados. Mas as fontes de prazer do ser humano estão cada vez mais pobres. Desde muito cedo temos a nossa sexualidade reprimida e isso resulta numa correria desesperada para obter outros tipos de prazeres a qualquer custo. Trabalhamos demasiadamente, compramos de forma desenfreada, comemos furiosamente, agendamos viagens, festas, jantares ou até o consumo de álcool e outras drogas. Sempre em busca de um prazer que nunca alcançamos de fato.Trocamos a naturalidade do nosso ser por prazeres momentâneos, que nunca saciam ou nos deixam felizes. Reprimimos nossa sexualidade, nossa espontaneidade, nosso amor. Tudo em troca de quê?
A sexualidade reprimida mantêm o sistema funcionando e nossos corpos e nossas ações vão se moldando segundo esta ordem. Assim que os restaurantes, shoppings, parques de diversão, cafés, lancherias, agências de viagens, estão sempre lotados. Mas o hábito pelas recompensas inicia em casa. Na maioria dos lares brasileiros a troca de afeto é realizada pela comida. Comida de vó, vô, de mãe e de pai, chocolates na páscoa, cinema, mc donald’s, pipoca e mil e outros doces e porcarias que fazem parte de qualquer programação familiar de final de semana. Quando crescemos continuamos seguindo a mesma lógica, buscando o mesmo afeto e recompensas nessas guloseimas. Nos viciamos em comida. Quando estamos tristes, ansiosos, frustrados, com raiva e precisamos de uma expressão emocional, comemos para aliviar essa angústia. Abafamos mais ainda nossa sexualidade que é a maior fonte de prazer natural que temos. Ou pior, em alguns casos transformamos nossa sexualidade em mais uma compulsão. Quanto mais se transa mais se sente fome e quanto mais comemos mais sentimos necessidade de transar.
Vou citar um exemplo. Uma pessoa frustrada sexualmente, que para recompensar essa frustração, a faz exigir muito de si mesma. No ambiente de trabalho, não consegue atender às próprias expectativas e, embora os outros elogiem seu desempenho, não atinge o nível de perfeccionismo almejado. Não ter alcançado plenamente a meta a que se propôs gera um sentimento de frustração que pode desencadear o episódio de compulsão, em geral, por doces e gorduras, porque são alimentos que reforçam a sensação de prazer e de recompensa, pois ativa aquela lembrança infantil da comida maternal. Outro exemplo é quando reprimimos um desejo sexual por uma pessoa, que para esconder este impulso, cria um personagem aceitável perante esta pessoa. Isso gera um sentimento de ansiedade todas as vezes que for encontrá-la e um sentimento de frustração quando não se está com ela, o que pode desencadear o episódio de compulsão por comida. Abafando assim o instinto sexual proibido.
O sexo é muito reprimido e a compulsão por comida é uma das consequências mais comuns.  Desde cedo as crianças aprendem a associar o sexo a algo sujo, perigoso. E dentro das famílias essa ideia se reforça. Se vive como se não existisse sexo, ninguém fala sobre o assunto de forma tranquila. A comida é um calmante para o instinto sexual e mantêm a boca calada. Todo ser humano sente prazer por estímulos sexuais e a distorção desse estímulo para a comida é uma das causas da compulsão sexual. Nosso cérebro foi treinado a distorcer desde criança. O pai e a mãe tinham uma atitude não amorosa e você distorcia para que parecesse amorosa, para ficar mais fácil de lidar. E isso acontece com o prazer também. Se nós não começarmos a fazer com que cresçamos emocionalmente, nós vamos estar sempre vinculados a prazeres muito infantis. Por isso comer é um prazer muito comum. Um chocolate, um sorvete, uma criança adora, mas para um adulto é um prazer pequeno. Um adulto pode ter fontes muito maiores, como uma transa sexual, um amor profundo, uma amizade profunda, a criação de uma arte. Essa doença está dentro da gente, essa distorção está dentro de cada um de nós. Temos que ser muito cuidadosos e olhar para nossa realidade. O sentido da vida é amar.
Quanto mais se vai ampliando e aprofundando a vida sexual com mais amor, com mais coragem, com mais vontade e decisão se vai vivendo. Com isso as pessoas ficam mais ousadas e começam a transgredir e contestar as regras impostas. Isso é perigoso! W.Reich, estudioso da sexualidade, afirma que a repressão sexual da criança torna-a apreensiva, tímida, obediente, simpática e bem comportada. Produzindo indivíduos submissos e com medo da autoridade. O recalcamento – resultado da interiorização da repressão sexual – enfraquece o ser, porque a pessoa tendo que constantemente investir energia para impedir a expressão dos seus desejos sexuais, priva-se de parte da sua potencialidade. Portanto, o objetivo da sexualidade reprimida consiste em fabricar indivíduos para se adaptar a sociedade autoritária, se submetendo a ela e temendo a liberdade, apesar de todo o sofrimento e humilhação de que são vítimas. Isso explica porque tanta gente sofre de ansiedade, frustrações e compulsões alimentares ao invés de ousar viver de forma diferente. Não é de admirar portanto que tanta gente renuncie a sexualidade ou que em nossa sociedade a atividade sexual seja de tão baixa qualidade.
Esse bloqueio emocional que além da compulsão por comida pode gerar disfunções sexuais como ejaculação precoce, impotência, frigidez, pode ser curado com a Bioenergética. Essa técnica libera essas tensões corporais, cria uma consciência das causas do problema e possibilita resgatar o prazer com o próprio corpo. São exercícios simples que juntos com uma respiração mais profunda e intensa geram mais liberdade sexual, autoconfiança, empoderamento e realização. Mas cuidado! Isso pode te transformar em uma pessoa perigosa, contestadora, corajosa, com mais força, vitalidade e felicidade. Se existe algum presente para sua vida é a Bioenergetica! Querer tratar suas compulsões passam por querer tratar sua sexualidade reprimida.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *